Existem mais costumes por esse mundo afora do que a nossa vã filosofia possa imaginar. Muitos desses costumes são bem estranhos do ponto de vista dos ocidentais. Acompanhe este blog. Sempre novidades para você.
Em casas feitas de palha, enfileiradas numa vila
muito pequena, mulheres sorridentes, algumas jovens, outras velhas, exibem
peças de artesanato ou trabalham em máquinas de tear. Mas aqueles que visitam a
vila não estão tão interessados em comprar. Todos vão ali para ver de perto as
míticas mulheres-girafa.
Eu sempre tive curiosidade em conhecer essas
mulheres, desde que as vi numa reportagem na Marie Clair quando eu era criança.
Acredito que todo mundo, algum dia nessa vida, já se deparou com uma foto
delas, com aquelas argolas douradas no pescoço. Mas poucos sabem como elas
vivem, porque estão ali e o que as faz manter a tradição.
Nós contratamos, em Chiang Mai, um passeio até a
vila onde ficam as mulheres Kayan ou Padaung (nome da tribo), num pacote que
incluia um safari de elefante e rafting. No mesmo dia, vimos dezenas de
turistas participando do passeio. Durante a visita à vila, quem ainda não
sabia, aprende que essas mulheres são refugiadas do Myanmar, onde a tradição de
tentar alongar os pescoços é secular. Não se sabe ao certo o motivo. Existem
lendas que contam que seria para proteger dos ataques de tigres. Outras, falam
que seria para deixá-las mais belas. E ainda há quem diga que seria para punir
adúlteras.
Fato é que, passados tantos anos, a tradição se
manteve e, a partir dos cinco anos de idade as meninas começam a colocar as
argolas no pescoço. É uma peça única de bronze, com aros enrolados, que com o
tempo é substituida por peças cada vez maiores, com no máximo 25 aros. As peças
são extremamente pesadas, podem chegar até 10 quilos.
Eu e Naty experimentamos uma pesada peça falsa
A curiosidade é que o pescoço não se alonga com o
processo – é só ilusão de ótica. O que acontece na verdade é que os aros afinam
a região e o peso da peça comprime a clávicula para baixo, afundando a caixa
torácica, o que dá a impressão de que o pescoço cresceu. As mulheres Kayan
podem tirar as argolas, só precisam tomar cuidado para não virar o pescoço
bruscamente.
Mas se antigamente usar as argolas era tradição,
hoje em dia virou uma questão de sobrevivência econômica. Desde o final dos
anos 80, membros da etnia Karen fogem do Myanmar, onde existe um conflito
étnico, para o nordeste da Tailândia. Existem alguns campos de refugiados na
região e três vilas onde ficam especificamente o povo das mulheres-girafa. Acontece que as Kayan se
tornaram uma boa fonte de renda para quem explora o turismo por ali e, com
isso, passaram a ser exploradas também.
A Tailândia não segue os regulamentos da ONU para
refugiados. O povo Karen é proibido de sair das áreas demarcadas pelo governo,
não pode trabalhar e tem pouco ou nenhum acesso à escola. No caso das mulheres
Kayan, a situação é pior. Como elas não seriam tão curiosas e exóticas se
pudessem ser vistas andando na rua, acabam ficando confinadas nas pequenas
vilas onde vivem. Caso decidam tirar as argolas, param de receber ajuda de
custo do governo. E elas têm mais dificuldade do que as outras tribos para
serem realocadas para outros países como refugiadas.
Confesso que não sabíamos dessas restrições até
escrever este post. Por um lado, atualmente é o turismo e a venda de artesanato
que sustenta as belas mulheres Kayan – que sorriem e acenam para os flashs das
câmeras. Por outro, elas são o retrato de uma exploração abusiva e do
desrespeito aos direitos humanos. Vivem presas num zoológico e têm poucas
chances de sair dali.
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